Aldeia da Pena, uma aldeia no Norte de Portugal
Havia muito tempo que a minha mãe tinha prometido que no Natal iriamos à terra ver o avô. Quando lhe perguntei onde ficava a terra, explicou, cheia de paciência, que ficava para o Norte, e que lá tinha nascido o avô, ela, eu, e que era a nossa terra natal. Disse também que era a terra mais linda do mundo, mas que não me lembrava porque tinha vindo de lá muito pequenino para a cidade, onde só havia casas e ruas enormes e muito poucas árvores. Que lá, as ruas e as casas eram pequeninas e por isso as pessoas se conheciam todas e eram muito amigas. Além disso havia campos cheios de árvores, que no inverno ficavam cobertas de neve, que era uma das coisas que eu nunca tinha visto. E ouvia, de olhos muito abertos, e pensava : “Que linda deve ser a terra natal!”
Faltavam poucos dias para o fim do ano, e enquanto a minha mãe andava de volta dos armários e das gavetas separando a roupa mais forte para levarmos, eu fui perguntar à criada se alguma vez tinha estado na terra natal.
- Então não havia de ter estado? Foi lá que eu nasci - respondeu ela.
- Tu também nasceste no Norte? - perguntei.
- Não, menino. Eu sou do Sul. Mas toda a gente nasce na sua terra natal.
- Então, os meninos americanos do quinto andar também vieram da terra natal?
- Com certeza, mas a terra natal deles é a América.
- Tão longe!...E também cai lá neve?
- Os jornais dizem que sim. Nunca fui para essas bandas.
A criada estava aborrecida e eu não perguntei mais nada, mas fiquei a pensar que a terra natal devia ser muito grande, porque ia desde o Norte, onde estava o avô, até ao Sul, onde nascera a criada, e chegava à América, de onde tinham vindo os meninos do quinto andar, e talvez fosse até à China, ocupando assim a Terra inteira.
Terra Natal, obra de Ricardo Alberty
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