Bairro de Alfama e Rio Tejo em Lisboa

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Três fábulas

Ilustração de Félix Lorioux (ap. César Ojeda)


A RAPOSA E O CORVO

O Corvo apanhou um queijo, e com ele fugindo, se poisou sobre uma árvore. Viu-o a Raposa, e desejou de lhe comer o seu queijo: e pondo-se ao pé da árvore, começou a dizer ao Corvo: -- Por certo que és formoso, e gentil-homem, e poucos pássaros há que te ganhem. Tu és bem disposto e mui galante; se acertaras de saber cantar, nenhuma ave se comparará contigo. Soberbo o Corvo destes gabos e desejando de lhe parecer bem, levanta o pescoço para cantar; porém abrindo a boca, caiu-lhe o queijo. A Raposa o tomou e foi-se, ficando o Corvo faminto e corrido de sua própria ignorância.

Fábula de Esopo, vertida do grego por Manuel Mendes, da Vidigueira. BRAGA, Teófilo. Contos tradicionais do povo português - vol. II. 5.ed. Lisboa: Dom Quixote, 1999. p. 278.




A RAPOSA E A VINHA

Dizem os Sábios que Salomão é mais sábio e contava: Uma astuta raposa passava por um lindo vinhedo. Uma cerca alta e espessa cercava a vinha por todos os lados. Ao circular ao redor da cerca, a raposa encontrou um buraquinho, suficiente apenas para que ela passasse a cabeça por ele. A raposa podia ver as uvas suculentas que cresciam na vinha, e sua boca começou a salivar. Mas o buraco era muito pequeno para ela.

O que fez então a esperta raposa? Jejuou por três dias, até tornar-se tão magra que conseguiu passar pelo vão.

No vinhedo, a raposa começou a comer à vontade. Ficou maior e mais gorda que antes. Até que quis sair da plantação. Ai dela! O buraco estava pequeno demais novamente. O que poderia fazer? Jejuou então por três dias, até que conseguiu espremer-se pelo buraco e passar para fora outra vez.

Voltando-se para olhar a vinha, a pobre raposa disse: "Vinha, ó vinha! Como pareces adorável, e como são deliciosas tuas frutas. Mas que bem me fizeste? Assim como a ti cheguei, assim eu te deixo..."

Fonte: Sociedade Israelita de Beneficência BEIT CHABAD




O LOBO E O CORDEIRO

Estava bebendo um Lobo encarniçado em um ribeiro de água, e pela parte de baixo chegou um Cordeiro também a beber. Olhou o Lobo de mau rosto, e disse, reganhando os dentes:

– Porque tiveste tanta ousadia de me turvar a água onde estou bebendo?

Respondeu o Cordeiro com humildade:

– A água corre para mim, portanto não posso eu turvá-la.

Torna o Lobo mais colérico a dizer:

– Por isso me hás-de praguejar? Seis meses haverá que me fez outro tanto teu pai.

Respondeu o Cordeiro:

– Nesse tempo, senhor, ainda eu não era nascido, nem tenho culpa.

– Sim tens (replicou o Lobo), que todo o pasto de meu campo estragaste.

– Mal pode ser isso, disse o Cordeiro, porque ainda não tenho dentes.

O Lobo, sem mais razões, saltou sobre ele e logo o degolou, e o comeu.


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