Bairro de Alfama e Rio Tejo em Lisboa

segunda-feira, 18 de abril de 2016

"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia..." (Alberto Caeiro / Fernando Pessoa)



Este é o poema XX de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro, um dos heterónimos do poeta português Fernando Pessoa. E ouvimo-lo dito por uma cantora brasileira, Maria Bethânia. Espero que gostem.


O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.



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