Bairro de Alfama e Rio Tejo em Lisboa

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Café de subúrbio (António Manuel Couto Viana)




CAFÉ DE SUBÚRBIO (9)

Zás! Entrou de rompante, sem licença!
Correu as mesas de nariz no ar,
Houve, na malta, uma alegria imensa
E uma senhora dona quase a desmaiar.

Os empregados dão-lhe caça,
Ele esquiva-se, esconde-se, ajudado
Pela malta. É um soberbo cão de raça,
Esbelto e bem tratado.

Fugiu à trela da dependência.
Por uns instantes (mais não terá!),
Escapa ao jogo da obediência,
Ao imperativo do aqui-já!

Depois dos caçadores haverem desistido,
Afagado e feliz,
Comeu um bolo, lento, estirado ao comprido,
E saiu quando quis.

(Com que emoção,
No circunspecto da minha idade,
Vivi, na fuga daquele cão,
A sensação de liberdade!)

António Manuel Couto Viana





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