Bairro de Alfama e Rio Tejo em Lisboa

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Rosa branca, rosa rubra


A fórmula tradicional para começar um conto tradicional é Era uma vez... Agora vamos ler um desses contos. Intitula-se Rosa branca, rosa rubra.


Era uma vez uma pobre viúva que vivia numa casa onde cresciam duas roseiras; uma dava rosas brancas e a outra rosas rubras. As suas duas filhas pareciam-se tanto com essas duas roseiras que lhes pôs o nome de Rosa Branca e Rosa Rubra. As duas gostavam muito uma da outra e iam sempre juntas para todo o lado.
Um dia, ao entardecer, enquanto a mãe lia um livro às meninas junto à lareira, alguém bateu à porta.
- Vá lá, Rosa Rubra, vai abrir! – disse a mãe. A Rosa Rubra foi ver quem era pensando que seria um viajante em busca de abrigo. Mas afinal era um enorme urso que, ao ver a menina, disse:
- Não vos quero fazer mal. Só peço que me deixem aquecer um bocadinho à lareira. - Entra, entra e vem para ao pé de nós! – gritou a mãe, lá de dentro.
As meninas, pouco a pouco, foram ganhando confiança e o urso também, e estiveram os três entretidos a brincar até já bem entrada a noite.
Quando chegou a hora de ir dormir, a mãe e as suas filhas foram-se deitar e o urso ficou ao pé do lume. A partir daquele dia, todas as tardes ia a casa das meninas para brincar com elas e passar ali a noite. Mas uma manhã, quando chegou a Primavera e começaram a brotar as primeiras flores, o urso dirigiu-se à Rosa Branca e à Rosa Rubra e disse-lhes:
- Agora não me vão ver até ao próximo Inverno. Tenho de tomar conta dos meus tesouros, pois com o bom tempo os anões maus saem dos seus abrigos e apoderam-se de tudo o que encontram.
Que triste foi a despedida! As crianças choravam inconsoláveis e o urso, muito emocionado, saiu a correr pela porta, mas com tanto azar que se feriu na maçaneta. Rosa Branca pareceu ver brilhar ouro debaixo da sua pele, mas não deu importância. O urso começou a correr até desaparecer no bosque.
Um dia, enquanto as meninas passeavam pelo bosque, ouviram uns gritos. Era um anão que tinha a barba presa no tronco de uma árvore e que gritava:
- De que é que estão à espera? Tirem-me daqui! - O que é que te aconteceu? – perguntou a Rosa Rubra. - Mas que grande curiosa! Afinal vais ajudar-me ou não? – replicou o anão.
As meninas, por mais que se esforçassem, não conseguiram soltar a barba, e a Rosa Branca pegou numa tesoura e cortou a parte que estava presa.
O anão, ao ver que estava solto, agarrou num saco cheio de ouro que estava escondido entre as raízes da árvore e foi-se embora a resmungar:
- Cortaram-me a ponta da minha linda barba!
Noutro dia, as duas meninas foram pescar; junto ao riacho viram outra vez o mesmo anão. A sua barba tinha-se embaraçado no fio de pesca que tinha nas mãos. Rosa Branca voltou a pegar na tesoura e cortou-lhe outro bom bocado de barba.
- São malucas! Não ficaram satisfeitas com a ponta da barba? – disse o anão a refilar. Depois, agarrou num saco de pérolas que tinha escondido entre uns juncos e foi-se embora.
No dia seguinte, a mãe mandou as filhas à cidade comprar linha. No caminho, viram o anão balançar-se no ar, capturado por uma águia.
Depois, foram ajudá-lo. Agarraram-no pelo casaco e cortaram até o enorme pássaro o soltar. Como sempre, o anão foi-se embora sem agradecer, desta vez com um saco de pedras preciosas.
As meninas já estavam habituadas à sua pouca simpatia, por isso seguiram o seu caminho e fizeram as suas compras na cidade.
No regresso, surpreenderam o anão a abrir os sacos de pedras preciosas no meio do campo, pensando que a essa hora não ia passar ninguém por ali. O sol fazia as brilhantes pedras reluzirem ainda mais. As crianças, ao passar, ficaram deslumbradas a olhar para elas.
- O que é que estão aqui a fazer paradas? – gritou o anão. Já estou farto das meninas o quererem ajudar.
Vermelho de raiva, começou a insultá-las e a ameaçá-las, quando, de repente, um enorme urso saiu do bosque em direcção ao anão.
Este, assustado, deu um salto e dasatou a correr à procura de um esconderijo. Demasiado tarde. O urso interceptou-o e pôs-se à frente dele, ameaçador. - Senhor urso, não me faça mal! – exclamou o anão. Dou-lhe todos os meus tesouros se me poupar a vida!
O urso, sem nenhuma piedade, avançou sobre a malvada criatura e, de um só golpe, acabou com a sua vida. As meninas ficaram tão assustadas que fugiram dali a correr. O urso foi atrás delas a gritar:
- Esperem! Não tenham medo!
As meninas reconheceram logo a voz do seu amigo e pararam. Ao chegar junto delas, o urso abraçou-as, contente de as tornar a ver. Então, libertou-se da pele de urso e disse:
- Eu sou um príncipe que o malvado anão tinha enfeitiçado, depois de roubar todos os meus tesouros. Só quando os recuperasse e o anão desaparecesse é que se quebraria o feitiço e eu recuperaria o aspecto humano…
E assim foi. Quando o anão recebeu o seu castigo e as pequenas souberam que o urso bom, na realidade, era um jovem príncipe, foram contar à mãe.
Depois de algum tempo a Rosa Branca casou-se com o príncipe e a Rosa Rubra com o seu irmão. Foram todos viver para o palácio e a velha mãe levou consigo as roseiras, que ainda oferecem todos os anos umas bonitas rosas brancas e rubras.








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