Fotografia de Luis A. Florit
Vamos deixar que as palavras nos levem com elas, nos arrastem... Alguém seria capaz de escrever um poema? Ou são já "muito velhos"? Reparem nas palavras do poeta brasileiro Manoel de Barros:
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio.