Bairro de Alfama e Rio Tejo em Lisboa

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A música de Natal da Rádio Comercial deste ano



Já me tinha despedido, mas cá está a canção de Natal da Rádio Comercial deste ano. Reconhecem alguém?



Agora, sim. Mais uma vez, Boas Festas!




 





Balões para a despedida!



Estes balões levam-nos à despedida. Acabou o primeiro período e agora toca a descansar. Também é bom não deixar de ler alguma coisa. Ler faz bem à saude... É verdade. Cá em baixo um breve conto para os alunos mais novos da escola.

Voltamos no dia 8 de janeiro.


Boas Festas e boa entrada no Ano Novo, 2016



A história do Eu, do Tu e do Ele

Era uma vez o Eu, o Tu e o Ele que moravam na mesma rua, numa pequena cidade.

Cada um deles vivia numa linda casinha, muito confortável, com vista para o mar. Os três tinham uma boa vida pois nada lhes faltava: tinham boa comida, muitos brinquedos e uma caminha muito fofinha onde todas as noites se aconchegavam e sonhavam lindos sonhos.

Mesmo não tendo nada de mau nas suas vidas, o Eu, o Tu e o Ele sentiam que algo lhes faltava, mas não conseguiam descobrir o quê.

Numa linda manhã de sol, cada um deles saiu da sua casinha para dar um passeio, e coincidiu de se encontrarem, os três, à beira mar. Por um instante, ficaram a olhar uns para os outros espantados, pois nunca se tinham visto antes.

Então os três, curiosos em saber quem era cada um deles, começaram a falar todos ao mesmo tempo, perguntando uns aos outros, quem eram, onde viviam e quais eram as suas brincadeiras favoritas.

Depois de muita conversa, gargalhadas e brincadeiras, o Eu, o Tu e o Ele descobriram finalmente aquilo que lhes faltava… Eles precisavam de amigos! Precisavam de outros com quem pudessem partilhar os seus afetos, as suas conversas e brincadeiras.

A partir daí, o Eu, o Tu e o Ele, passaram a ser Nós, um grupo de amigos muito unidos e feliz!

(Autoria: Tania Santos)







A música de Natal deste ano da RFM: Bolas de Natal




Não é uma canção tradicional do Natal, mas não faz mal, pois não? Temos Carolina Deslandes, Mikkel Solnado, Music Landrick e Diego Miranda da RFM a cantar.

A RFM é uma estação de rádio portuguesa que passa música em todo o seu horário.




E cá em baixo temos a música de Natal da Rádio Comércial do ano passado.Eu não tinha visto. Importam-se de a vermos todos juntos hoje? ("Inclui a história do nascimento do menino, o sorriso inesquecível de uma menina e a Taylor Swift da Moita. ")








Uma pintura de Kandinsky a dançar!




O que pensaria o pintor ruso Kandinsky se visse esta obra dele a mexer-se?

Será que a Alba, da turma de 2º D, se lembra dele? Ela, quando estava no 1º ano, conhecia Kandinsky!

Cá em baixo, a pintura no seu estado natural, quieta!





 


Uma noite de Natal (Sophia de Mello Breyner Andresen)



Bem sei. É um conto comprido para vocês, há muitas palavras que não conhecem, mas... é uma obra da grande escritora portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, o Natal está aí e, sabe-se lá, eu acho que alguém vai ler.


Uma noite de Natal

Era uma vez uma casa pintada de amarelo com um jardim à volta. No jardim havia tílias, bétulas, um cedro muito antigo, uma cerejeira e dois plátanos. Era debaixo do cedro que Joana brincava. Com musgo e ervas e paus fazia muitas casas pequenas encostadas ao grande tronco escuro. Depois imaginava os anõezinhos que, se existissem, poderiam morar naquelas casas. E fazia uma casa maior e mais complicada para o rei dos anões.

Joana não tinha irmãos e brincava sozinha. Mas de vez em quando vinham brincar os dois primos ou outros meninos. E, às vezes, ela ia a uma festa. Mas esses meninos a casa de quem ela ia e que vinham a sua casa não eram realmente amigos: eram visitas. Faziam troça das suas casas de musgo e maçavam-se imenso no seu jardim.

E Joana tinha muita pena de não saber brincar com os outros meninos. Só sabia estar sozinha.

Mas um dia encontrou um amigo. Foi numa manhã de Outubro.

Joana estava encarrapitada no muro. E passou pela rua um garoto. Estava todo vestido de remendos e os seus olhos brilhavam como duas estrelas. Caminhava devagar pela beira do passeio sorrindo às folhas do Outono. O coração de Joana deu um pulo na garganta.

- Ah! - disse ela. E pensou:

«Parece um amigo. E exactamente igual a um amigo.» E do alto do muro chamou-o:

- Bom-dia!

O garoto voltou a cabeça, sorriu e respondeu:

- Bom-dia!

Ficaram os dois um momento calados.

Depois Joana perguntou:

- Como é que te chamas?

- Manuel — respondeu o garoto.

- Eu chamo-me Joana.

E de novo entre os dois, leve e aéreo, passou um silêncio. Ouviu-se tocar ao longe o sino de uma quinta. Até que o garoto disse:

— O teu jardim é muito bonito.

— É, vem ver.

Joana desceu do muro e foi abrir o portão.

E foram os dois pelo jardim fora. O rapazinho olhava uma por uma cada coisa. Joana mostrou-lhe o tanque e os peixes vermelhos. Mostrou-lhe o pomar, as laranjeiras e a horta. E chamou os cães para ele os conhecer. E mostrou-lhe a casa da lenha onde dormia um gato. E mostrou-lhe todas as árvores e as relvas e as flores.

— É lindo, é lindo — dizia o rapazinho gravemente.

— Aqui — disse Joana — é o cedro. É aqui que eu brinco.

E sentaram-se sob a sombra redonda do cedro.

A luz da manhã rodeava o jardim: tudo estava cheio de paz e de frescura. Às vezes do alto de uma tília caía uma folha amarela que dava voltas no ar.

Joana foi buscar pedras, paus e musgo e começaram os dois a construir a casa do rei dos anões.

Brincaram assim durante muito tempo.

Até que ao longe apitou uma fábrica.

— Meio-dia — disse o garoto — tenho de me ir embora.

— Onde é que tu moras?

— Além nos pinhais.

— É lá a tua casa? — É, mas não é bem uma casa. — Então? — O meu pai está no céu. Por isso somos muito pobres. A minha mãe trabalha todo o dia mas não temos dinheiro para ter uma casa. — Mas à noite onde é que dormes? — O dono dos pinhais tem uma cabana onde de noite dormem uma vaca e um burro. E por esmola dá-me licença de dormir ali também. — E onde é que brincas? — Brinco em toda a parte. Dantes morávamos no centro da cidade e eu brincava no passeio e nas valetas. Brincava com latas vazias, com jornais velhos, com trapos e com pedras. Agora brinco no pinhal e na estrada. Brinco com as ervas, com os animais e com as flores. Pode-se brincar em toda a parte. — Mas eu não posso sair deste jardim. Volta amanhã para brincar comigo. E daí em diante todas as manhãs o rapazinho passava pela rua. Joana esperava-o empoleirada em cima do muro. Abria-lhe a porta e iam os dois sentar-se sob a sombra redonda do cedro. E foi assim que Joana encontrou um amigo. Era um amigo maravilhoso. As flores voltavam as suas corolas quando ele passava, a luz era mais brilhante em seu redor e os pássaros vinham comer na palma das suas mãos as migalhas de pão que Joana ia buscar à cozinha.

A festa

Passaram muitos dias, passaram muitas semanas até que chegou o Natal.

E no dia de Natal Joana pôs o seu vestido de veludo azul, os seus sapatos de verniz preto e muito bem penteada às sete e meia saiu do quarto e desceu a escada.

Quando chegou ao andar de baixo ouviu vozes na sala grande; eram as pessoas crescidas que estavam lá dentro. Mas Joana sabia que tinham fechado a porta para ela não entrar. Por isso foi à casa de jantar ver se já lá estavam os copos.

Os copos passavam a sua vida fechados dentro de um grande armário de madeira escura que estava no meio do corredor. Esse armário tinha duas portas que nunca se abriam completamente e uma grande chave. Lá dentro havia sombras e brilhos. Era como o interior de uma caverna cheia de maravilhas, e segredos. Estavam lá fechadas muitas coisas, coisas que não eram precisas para a vida de todos os dias, coisas brilhantes e um pouco encantadas: loiças, frascos, caixas, cristais e pássaros de vidro. Até havia um prato com três maçãs de cera e uma menina de prata que era uma campainha. E também um grande ovo de Páscoa feito de loiça encarnada com flores doiradas.

Joana nunca tinha visto bem até ao fundo do armário. Não tinha licença de o abrir. Só conseguia que a criada às vezes a deixasse espreitar entre as duas portas.

Nos dias de festa, do fundo das sombras do interior do armário saíam os copos. Saíam claros, transparentes e brilhantes tilintando no tabuleiro. E para Joana aquele barulho de cristal a tilintar era a música das festas.

Joana deu uma volta à roda da mesa. Os copos já lá estavam, tão frios e luminosos que mais pareciam vindos do interior de uma fonte de montanha do que do fundo de um armário. As velas estavam acesas e a sua luz atravessava o cristal. Em cima da mesa havia coisas maravilhosas e extraordinárias: bolas de vidro, pinhas douradas e aquela planta que tem folhas com picos e bolas encarnadas. Era uma festa. Era o Natal.

Então Joana foi ao jardim. Porque ela sabia que nas Noites de Natal as estrelas são diferentes.

Abriu a porta e desceu a escada da varanda. Estava muito frio, mas o próprio frio brilhava. As folhas das tílias, das bétulas e das cerejeiras tinham caído. Os ramos nus desenhavam-se no ar como rendas pretas. Só o cedro tinha os seus ramos cobertos.

E muito alto, por cima das árvores, era a escuridão enorme e redonda do céu. E nessa escuridão as estrelas cintilavam, mais claras do que tudo. Cá em baixo era uma festa e por isso havia muitas coisas brilhantes: velas acesas, bolas de vidro, copos de cristal. Mas no céu havia uma festa maior, com milhões e milhões de estrelas.

Joana ficou algum tempo com a cabeça levantada. Não pensava em nada. Olhava a imensa felicidade da noite no alto céu escuro e luminoso, sem nenhuma sombra.

Depois voltou para casa e fechou a porta. — Ainda falta muito tempo para o jantar? — perguntou ela a uma criada que ia a atravessar o corredor.

— Ainda falta um bocadinho, menina — disse a criada. Então Joana foi à cozinha ver a cozinheira.

Gertrudes, que era uma pessoa extraordinária porque mexia nas coisas quentes sem se queimar e nas facas mais aguçadas sem se cortar, e mandava em tudo, e sabia tudo. Joana achava-a a pessoa mais importante que ela conhecia.

A Gertrudes tinha aberto o forno e estava debruçada sobre os dois perus do Natal. Virava-os e regava-os com molho. A pele dos perus, muito esticada sobre o peito recheado, já estava toda doirada.

— Gertrudes, ouve uma coisa — disse Joana.

A Gertrudes levantou a cabeça e parecia tão assada como os perus.

— O que é? — perguntou ela.

— Que presentes é que achas que eu vou ter?

— Não sei — disse Gertrudes — não posso adivinhar.

Mas Joana tinha a maior confiança na sabedoria de Gertrudes e por isso continuou a fazer perguntas.

— E achas que o meu amigo vai ter muitos presentes?

— Qual amigo? — disse a cozinheira.

— O Manuel.

— O Manuel não. Não vai ter presentes nenhuns.

— Não vai ter presentes nenhuns!?

— Não — disse a Gertrudes abanando a cabeça.

— Mas porquê, Gertrudes?

— Porque é pobre. Os pobres não têm presentes.

— Isso não pode ser, Gertrudes.

— Mas é assim mesmo — disse a Gertrudes fechando a tampa do forno.

Joana ficou parada no meio da cozinha. Tinha compreendido que era «assim mesmo».

Porque ela sabia que a Gertrudes conhecia o mundo. Todas as manhãs a ouvia discutir com o homem do talho, com a peixeira e com a mulher da fruta. E ninguém a podia enganar. Porque ela era cozinheira há trinta anos. E há trinta anos que ela se levantava às sete da manhã e trabalhava até às onze da noite. E sabia tudo o que se passava na vizinhança e tudo o que se passava dentro das casas de toda a gente. E sabia todas as notícias, e todas as histórias das pessoas. E conhecia todas as receitas de cozinha, sabia fazer todos os bolos e conhecia todas as espécies de carnes, de peixes, de frutas e de legumes. Ela nunca se enganava. Conhecia bem o mundo, as coisas e os homens.

Mas o que a Gertrudes tinha dito era esquisito como uma mentira. Joana ficou calada a cismar no meio da cozinha.

De repente abriu-se a porta e apareceu uma criada que disse:

— Já chegaram os primos.

Então Joana foi ter com os primos.

Daí a uns minutos apareceram as pessoas grandes e foram todos para a mesa.

Tinha começado a festa do Natal.

Havia no ar um cheiro de canela e de pinheiro. Em cima da mesa tudo brilhava: as velas, as facas, os copos, as bolas de vidro, as pinhas doiradas. E as pessoas riam e diziam umas às outras: «Bom Natal». Os copos tilintavam com um barulho de alegria e de festa. E vendo tudo isto Joana pensava:

— Com certeza que a Gertrudes se enganou. O Natal é uma festa para toda a gente. Amanhã o Manuel vai-me contar tudo. Com certeza que ele também tem presentes.

E consolada com esta esperança Joana voltou a ficar quase tão alegre como antes.

O jantar do Natal era igual ao de todos os anos.

Primeiro veio a canja, depois o bacalhau assado, depois os perus, depois os pudins de ovos, depois as rabanadas, depois os ananases.

No fim do jantar levantaram-se todos, abriu-se de par em par a porta e entraram na sala.

As luzes eléctricas estavam apagadas. Só ardiam as velas do pinheiro.

Joana tinha nove anos e já tinha visto nove vezes a árvore do Natal. Mas era sempre como se fosse a primeira vez. Da árvore nascia um brilhar maravilhoso que pousava sobre todas as coisas. Era como se o brilho de uma estrela se tivesse aproximado da Terra. Era o Natal. E por isso uma árvore se cobria de luzes e os seus ramos se carregavam de extraordinários frutos em memória da alegria que, numa noite muito antiga, se tinha espalhado sobre a Terra.

E no presépio as figuras de barro, o Menino, a Virgem, São José, a vaca e o burro, pareciam continuar uma doce conversa que jamais tinha sido interrompida. Era uma conversa que se via e não se ouvia.

Joana olhava, olhava, olhava.

Às vezes lembrava-se do seu amigo Manuel.

Um dos primos puxou-a por um braço.

— Joana, ali estão os teus presentes.

Joana abriu um por um os embrulhos e as caixas: a boneca, a bola, os livros cheios de desenhos a cores, a caixa de tintas.

À sua volta todos riam e conversavam.

Todos mostravam uns aos outros os presentes que tinham tido, falando ao mesmo tempo.

E Joana pensava:

— Talvez o Manuel tenha tido um automóvel.

E a festa do Natal continuava.

As pessoas grandes sentaram-se nas cadeiras e nos sofás a conversar e as crianças sentaram-se no chão a brincar.

Até que alguém disse:

— São onze horas e meia. São quase horas da missa. E são horas de as crianças se irem deitar.

Então as pessoas começaram a sair.

O pai e a mãe de Joana também saíram.

— Boa noite, minha querida. Bom Natal — disseram eles.

E a porta fechou-se.

Daí a um instante saíram as criadas.

A casa ficou muito silenciosa. Tinham ido todos para a Missa do Galo, menos a velha Gertrudes, que estava na cozinha a arrumar as panelas.

E Joana foi à cozinha. Era a altura boa para falar com a Gertrudes.

— Bom Natal, Gertrudes — disse Joana.

— Bom Natal — respondeu a Gertrudes. Joana calou-se um momento. Depois perguntou:

— Gertrudes, aquilo que disseste antes do jantar é verdade?

— O que é que eu disse?

— Disseste que o Manuel não ia ter presentes de Natal porque os pobres não têm presentes.

— Está claro que é verdade. Eu não digo fantasias: não teve presentes, nem árvore do Natal, nem peru recheado, nem rabanadas. Os pobres são os pobres. Têm a pobreza.

— Mas então o Natal dele como foi? — Foi como nos outros dias.

— E como é nos outros dias?

— Uma sopa e um bocado de pão.

— Gertrudes, isso é verdade?

— Está claro que é verdade. Mas agora era melhor que a menina se fosse deitar porque estamos quase na meia-noite. — Boa noite — disse Joana. E saiu da cozinha.

Subiu a escada e foi para o seu quarto. Os seus presentes de Natal estavam em cima da cama. Joana olhou-os um por um. E pensava:

— Uma boneca, uma bola, uma caixa de tintas e livros. São tal e qual os presentes que eu queria. Deram-me tudo o que queria. Mas ao Manuel ninguém deu nada.

E sentada na beira da cama, ao lado dos presentes, Joana pôs-se a imaginar o frio, a escuridão e a pobreza. Pôs-se a imaginar a Noite de Natal naquela casa que não era bem uma casa, mas um curral de animais.

«Que frio lá deve estar!», pensava ela.

«Que escuro lá deve estar!», pensava ela.

«Que triste lá deve estar!», pensava.

E começou a imaginar o curral gelado e sem nenhuma luz onde Manuel dormia em cima das palhas, aquecido só pelo bafo de uma vaca e de um burro.

— Amanhã vou-lhe dar os meus presentes — disse ela. Depois suspirou e pensou:

«Amanhã não é a mesma coisa. Hoje é que é a Noite de Natal.»

Foi à janela, abriu as portadas e através dos vidros espreitou a rua. Ninguém passava. O Manuel estava a dormir. Só viria na manhã seguinte. Ao longe via-se uma grande sombra escura: era o pinhal.

Então ouviu, vindas da Torre da Igreja, fortes e claras, as doze pancadas da meia-noite.

«Hoje», pensou Joana, «tenho de ir hoje. Tenho de ir lá agora, esta noite. Para que ele tenha presentes na Noite de Natal.»

Foi ao armário tirou um casaco e vestiu-o. Depois pegou na bola, na caixa de tintas e nos livros. Apetecia-lhe levar também a boneca, mas ele era um rapaz e com certeza não gostava de bonecas.

Pé ante pé Joana desceu a escada. Os degraus estalaram um por um. Mas na cozinha a Gertrudes fazia muito barulho a arrumar as panelas e não a ouviu.

Na sala de jantar havia uma porta que dava para o jardim. Joana abriu-a e saiu, deixando-a ficar só fechada no trinco.

Depois atravessou o jardim. O Alex e a Ghiribita ladraram.

— Sou eu, sou eu — disse Joana.

E os cães, ouvindo a sua voz, calaram-se.

Então Joana abriu a porta do jardim e saiu.

A estrela

Quando se viu sozinha no meio da rua teve vontade de voltar para trás. As árvores pareciam enormes e os seus ramos sem folhas enchiam o céu de desenhos iguais a pássaros fantásticos. E a rua parecia viva. Estava tudo deserto. Àquela hora não passava ninguém. Estava toda a gente na Missa do Galo. As casas, dentro dos seus jardins, tinham as portas e as janelas fechadas. Não se viam pessoas, só se viam coisas. Mas Joana tinha a impressão de que as coisas a olhavam e a ouviam como pessoas.

«Tenho medo», pensou ela.

Mas resolveu caminhar para a frente sem olhar para nada.

Quando chegou ao fim da rua virou à direita e meteu a um atalho entre dois muros. E no fim do atalho encontrou os campos, planos e desertos. Ali, sem muros nem árvores nem casas, a noite via-se melhor. Uma noite altíssima e redonda e toda brilhante.

O silêncio era tão forte que parecia cantar. Muito ao longe via-se a massa escura dos pinhais.

«Será possível que eu chegue até lá?», pensou Joana.

Mas continuou a caminhar.

Os seus pés enterravam-se nas ervas geladas. Ali no descampado soprava um curto vento de neve que lhe cortava a cara como uma faca.

«Tenho frio», pensou Joana.

Mas continuou a caminhar.

À medida que se ia aproximando dele, o pinhal ia-se tornando maior. Até que ficou enorme.

Joana parou um instante no meio dos campos.

«Para que lado ficará a cabana?», pensou ela.

E olhava em todas as direcções à procura de um rasto.

Mas à sua direita não havia rasto, à sua esquerda não havia rasto e à sua frente não havia rasto.

«Como é que hei-de encontrar o caminho?», perguntava ela.

E levantou a cabeça.

Então viu que no céu, lentamente, uma estrela caminhava.

«Esta estrela parece um amigo», pensou ela.

E começou a seguir a estrela.

Até que penetrou no pinhal. Então num instante as sombras fizeram uma roda à sua volta. Eram enormes, verdes, roxas, pretas e azuis, e dançavam com grandes gestos. E a brisa passava entre as agulhas dos pinheiros, que pareciam murmurar frases incompreensíveis. E vendo-se assim rodeada de vozes e de sombras, Joana teve medo e quis fugir. Mas viu que no céu, muito alto, para além de todas as sombras, a estrela continuava a caminhar. E seguiu a estrela.

Já no meio do pinhal pareceu-lhe ouvir passos.

«Será um lobo?», pensou.

Parou a escutar. O barulho dos passos aproximava-se. Até que viu surgir entre os pinheiros um vulto muito alto que vinha caminhando ao seu encontro.

«Será um ladrão?», pensou.

Mas o vulto parou na sua frente e ela viu que era um rei. Tinha na cabeça uma coroa de oiro e dos seus ombros caía um longo manto azul todo bordado de diamantes.

— Boa noite — disse Joana.

— Boa noite — disse o rei. — Como te chamas?

— Eu, Joana — disse ela.

— Eu chamo-me Melchior — disse o rei. E perguntou:

— Onde vais sozinha a esta hora da noite?

— Vou com a estrela — disse ela.

— Também eu — disse o rei —, também eu vou com a estrela.

E juntos seguiram através do pinhal.

E de novo Joana ouviu passos. E um vulto surgiu entre as sombras da noite.

Tinha na cabeça uma coroa de brilhantes e dos seus ombros caía um grande manto vermelho coberto de muitas esmeraldas e safiras.

— Boa noite — disse ela. — Chamo-me Joana e vou com a estrela.

— Também eu — disse o rei — também eu vou com a estrela e o meu nome é Gaspar.

E seguiram juntos através dos pinhais. E mais uma vez Joana ouviu um barulho de passos e um terceiro vulto surgiu entre as sombras azuis e os pinheiros escuros.

Tinha na cabeça um turbante branco e dos seus ombros caía um longo manto verde bordado de pérolas. A sua cara era preta.

— Boa noite — disse ela. — O meu nome é Joana. E vamos com a estrela.

— Também eu — disse o rei — caminho com a estrela e o meu nome é Baltasar.

E juntos seguiram os quatro através da noite.

No chão, os galhos secos estalavam sob os passos, a brisa murmurava entre as árvores e os grandes mantos bordados dos três reis do Oriente brilhavam entre as sombras verdes, roxas e azuis.

Já quase no fundo dos pinhais viram ao longe uma claridade. E sobre essa claridade a estrela parou.

E continuaram a caminhar.

Até que chegaram ao lugar onde a estrela tinha parado e Joana viu um casebre sem porta. Mas não viu escuridão, nem sombra, nem tristeza. Pois o casebre estava cheio de claridade, porque o brilho dos anjos o iluminava.

E Joana viu o seu amigo Manuel. Estava deitado nas palhas entre a vaca e o burro e dormia sorrindo.

Em sua roda, ajoelhados no ar, estavam os anjos. O seu corpo não tinha nenhum peso e era feito de luz sem nenhuma sombra.

E com as mãos postas os anjos rezavam ajoelhados no ar.

Era assim, à luz dos anjos, o Natal de Manuel.

— Ah — disse Joana — aqui é como no presépio!

— Sim — disse o rei Baltasar — aqui é como no presépio.

Então Joana ajoelhou-se e pousou no chão os seus presentes.


Sophia de Mello Breyner Andresen



(escolovar)







Para quem quiser saber coisas do Natal





...cá temos este link do Site Junior para isso.






segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Imagens de Portugal








Voamos sobre o Forte da Graça



Vale bem bem a pena conhecer esta bela fortaleza que fica tão perto de Badajoz. Vamos até Elvas, e saímos da auto-estrada onde se lê "Santa Eulália"; a aseguir continuamos em direção a Elvas e já lá encontramos o Forte no caminho. Até ao fim do ano não é preciso pagar. Mas, depois valerá a pena também pagar o bilhete para o percorrer.


Forte da Graça em Elvas abre portas este mês, após obras de 6,1 milhões
19/11/2015 no Observador

"O emblemático forte, que espera receber 100 mil visitantes, durante o próximo ano, é composto por um conjunto de fortificações abaluartadas, classificadas como Património Mundial, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO)."









Alguém já subiu numa destas?






Natal mais uma vez (Luísa Sobral)



"Luísa Sobral escreveu esta música porque gostaria de viajar no tempo e reviver a noite de Natal"


NATAL MAIS UMA VEZ

Na hora do final
a noite de Natal
apagam-se as luzes
vão todos dormir
mas o relógio não quer seguir
e mesmo no final
na noite de Natal
num só segundo
só de uma vez
sonhas viver o dia todo outra vez

E voltas à manhã de natal
onde todos acordam
mais cedo que o normal
onde os pijamas são vestidos de gala
e os presentes estão espalhados
pela sala

Quando chegas ao final
dessa noite de Natal
se pedires num desejo
contares até 3
verás que volta a ser Natal
mais uma vez






Três boas amigas no convês de um cargueiro de café



A Carmen, a Beatriz e a Ana, no Centro de Ciência do Café em Campo Maior. Parte da tripulação de um navio que transportava café para o Velho Mundo.



Com quem é que se parece esta menina?


Eu já disse no outro dia aos alunos de Português de 2º D. O que é que vocês acham? Não concordam comigo? Não é muito parecida com a vossa colega...? O título desta fotografia de Lina Magalhães é "Ei, tira uma foto minha". Podem imaginar a situação.


Reparem como é que se diz em português "parecerse a alguien": parecer-se com alguém. Por exemplo:

Eu sou parecido com o meu pai ("Yo me parezco a mi padre")

A Joana é parecida com a mãe ("Juana se parece a su madre")

Tu és parecida comigo ("Tú te pareces a mí")

Eu sou parecida contigo ("Yo me parezco a ti")




"A felicidade é um pastel de Belém morno" (Susana Carvalhinhos)



Estão a ver o que diz a ilustradora portuguesa Susana Carvalhinhos? Os alunos do 1º ano da ESO que participarem na viagem cultural que faremos a Lisboa, nomeadamente à zona de Belém,  no terceiro período deste ano letivo, vão poder experimentar essa felicidade, essa delícia de pastéis morninhos recém saídos do forno...

Eu não sou muito guloso, mas pensar nesses pastéis agora faz-me crescer água na boca... Percebem? Aprendem uma expressão idiomática da língua portuguesa. Como é que isso se diz em espanhol?






Esperando Papai Noel / A esperar o Pai Natal



Esperando Papai Noel  é o titulo desta fotografia de Carlos Quandt. Em Portugal diriam "A esperar o Pai Natal". Mas tanto faz, porque a ilusão é a mesma. Isso vê-se logo... A avó está contente também pela ilusão das meninas.

Aqui há uma outra bonita fotografia: "Papai Noel, eu quero que minha família seja feliz". Porque é isso que todos nós queremos, não é?




sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Visita ao Centro de Ciência do Café em Campo Maior (e 2)


Cá temos uma seleção das fotografias que ilustram a nossa visita ao Centro de Ciencia do Café da Delta em Campo Maior. Eis, para começar, alguns dos painéis com dados sobre o café em português, espanhol e inglês.










Para ver, tocar e cheirar...


Vamos lá ver como é que isto cheira...


No interior de uma máquina como esta era torrado o café

Interior da grande bola, onde também cheirava a café torrado

Diferentes máquinas de outros tempos para moer o café


No fim da visita, os alunos todos foram obsequiados com um chocolate. Ótimo! Os professores, por sua vez, tomaram um bom carioca.






Os alunos compraram alguns dos produtos à venda para levar à familia ou para eles próprios, claro: café, canecas, chávenas...

Uma sugestão: porque não visitar o Centro com os pais e os irmãos num fim de semana?





Visita ao Centro de Ciência do Café em Campo Maior (1)

Os alunos com a professora Ara pouco antes de entrar no Centro

Na passada terça-feira, dia 15, um grupo de 34 alunos das turmas do 3º ano fizeram uma visita ao Centro de Ciência do Café, da Delta Cafés, na vizinha povoação de Campo Maior. Já conhecemos no ano pasado as novas instalações deste novo centro que substituiu o antigo Museu do Café. Espetacular.

Desta vez, como o grupo era mais pequeno, não foi preciso dividir o grupo em dois. Há muita coisa para ver e aprender, embora pouco tempo para isso. Aliás, os alunos estão com amigos e colegas, fora da Escola, e há uma certa euforia neles que os impede de reparar nalgumas coisas. É natural. Mas de certeza que gostaram da experiência e ficaram a saber mais um pouco sobre o café e o que há em volta dele: ficam a saber das origens, das principais espécies (a arábica e a robusta); aprendem que o fruto do cafeeiro, a “cereja” como é conhecida, agrupa duas sementes, e que quando só oferece uma, esta variedade é chamada moka.

A funcionária que nos acompanhou fornecia explicações do que estábamos a ver ao longo do percurso por este Centro que foi distinguido com o Prémio Museu Português 2015, atribuído pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM) em junho deste ano ("Centro de Ciência do Café é o Museu Português do Ano 2015"). Museu para ver, tocar e cheirar…


A cultura do café no mundo



Diferentes plantas de café com o grau de temperatura e humidade precisos para viver é primeiro que os alunos podem ver


Quais são os insetos que vivem em volta do café? Há montes deles


Uma aluna a observar alguns com uma ótima lupa com luz





Um breve filme de desenhos animados que nos conta a lenda da descoberta do café. Se clicarmos no link "A lenda do café", podemos ler essa lenda em várias versões



As origens, na Etiópia (cuidado com a pronúncia!)



Uma aluna ao leme de um navio que carrega café. Era um jogo instrutivo. Guiavam o barco aos fiferentes portos e quando lá chegavam, aparecia no ecrã uma pergunta com três respostas que deviam responder


Mais pilotos ao leme.


Cá os alunos podiam tirar uma fotografia deles e escolher como fundo entre vários famosos cafés de Portugal. Depois enviavam por mail para o endereço eletrónico deles ou dos amigos.


Estamos na Raia, meus senhores! Uma maneira de ganhar a vida no século passado foi o contrabando do café de Portugal para o nosso país. Há tantas histórias para contar e os alunos podiam ouvir os testemunhos de pessoas que na sua juventude foram contrabandistas. Era uma maneira de ganhar o pão em tempos muito difíceis...


Uma das muitas citações sobre o café que se podem ler nos muros do Centro. Neste caso, do poeta inglês do século XVII, John Milton.


(Para não sobrecarregar esta, continuamos noutra mensagem com mais fotografias)





Uma árvore de Natal flutuante em São Martinho do Porto




No link do blogue dos vossos colegas mais velhos podem ver onde é que fica S. Martinho do Porto e um pouco de como é que é.





quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Dois desenhos de Felipe Mascarenhas








Estes dois desenhos de Felipe Mascarenhas chegam-nos do Brasil. Estão dedicados para todos os alunos que gostam de desenhar (cuidado, quer dizer "dibujar"!). 


Haverá mais antes de nos despedirmos na próxima semana.





Tanta neve nesses telhados!



O pintor chama-se A. J. Casson, e de certeza que estas casas com os telhados cobertos de neve não ficam no sul da Europa.








Autoperpetuação (Mrzyk & Moriceau)




O José Manuel, aluno da turma de 1º C, gosta muito de pintar e desenhar, e fá-lo muito bem. Para ele, e para todos aqueles alunos que gostam de fazer isto, dedico este gif de Mrzyk & Moricea.




No descomeço era o verbo (Manoel de Barros)

Fotografia de Luis A. Florit

Vamos deixar que as palavras nos levem com elas, nos arrastem... Alguém seria capaz de escrever um poema? Ou são já "muito velhos"? Reparem nas palavras do poeta brasileiro Manoel de Barros:


No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio.





Aquarela (Toquinho)




AQUARELA

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...
Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva...
Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu...
Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Brando navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul...
Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar...
Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar...
Numa folha qualquer
Eu desenho um navio
De partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida...
De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo...
Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está...
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá...
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço
O mundo
(Que descolorirá!)




quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Um submarino e dois golfinhos




Vejam estes golfinhos à frente desse enorme submarino! Tão lindos!






Rua de Cabral Moncada, em Luanda



Estamos numa rua de Luanda, a capital de Angola, país africano que, como bem sabem, tem como língua oficial o português.

A fotografia é de Ionut Sendroiu.