Bairro de Alfama e Rio Tejo em Lisboa

sexta-feira, 21 de março de 2014

Dia Mundial da Poesia



O escritor português Branquinho da Fonseca escreveu o seguinte poema. Para o compreenderem melhor é preciso conhecer a historia dessa nau Catrineta que aparece no primeiro verso. Em baixo há o texto de um romance popular que fala dela. Depois de o ler, vamos clicar no link e ouvimos uma canção: "A nau Catrineta"


É assim que festejamos mais um Dia Mundial da Poesia, hoje dia 21 de março.


ARQUIPÉLAGO DAS SEREIAS

Ó nau Catrineta
Em que andei no mar
Por caminhos de ir,
Nunca de voltar!

Veio a tempestade
Perder-se do mundo,
Fez-se o céu infindo,
Fez-se o mar sem fundo!

Ai como era grande
O mundo e a vida
Se a nau, tendo estrela,
Vogava perdida!

E que lindas eram
Lá em Portugal
Aquelas meninas
No seu laranjal!

E o cavalo branco
Também lá o via
Que tão belo e alado
Nenhum outro havia!

Mundo que não era,
Terras nunca vistas!
Tive eu de perder-me
Pra que tu existas.

Ó nau Catrineta
Perdida no mar,
Não te percas ainda,
Vem-me cá buscar!

Branquinho da Fonseca


Texto do romance A nau Catrineta:


A NAU CATRINETA

Lá vem a Nau Catrineta
que tem muito que contar!
ouvide agora, senhores,
uma história de pasmar.

Passava mais de ano e dia
que iam na volta do mar
já não tinham que comer,
já não tinham que manjar.

Deitaram sola de molho
para o outro dia jantar;
mas a sola era tão rija,
que a não puderam tragar.

Deitam sortes à ventura
qual se havia de matar;
logo foi cair a sorte
no capitão-general.

– "Sobe, sobe, marujinho,
àquele mastro real,
vê se vês terras de Espanha,
as praias de Portugal!"

–"não vejo terras de Espanha,
nem praias de Portugal;
vejo sete espadas nuas
que estão para te matar."

–"acima, acima, gajeiro,
acima ao tope real!
olha se enxergas Espanha,
areias de Portugal!"

–"Alvíssaras Capitão,
meu capitão-general!
já vejo terras de Espanha,
areias de Portugal.

Mas enxergo três meninas
debaixo de um laranjal:
uma sentada a coser,
outra na roca a fiar,
a mais formosa de todas
está no meio a chorar."

–"Todas três são minhas filhas.
Oh! quem mas dera abraçar
a mais formosa de todas
contigo a hei-de casar."
–"A vossa filha não quero,
que vos custou a criar."
– "Dar-te-ei tanto dinheiro
que o não possas contar."
 – "Não quero o vosso dinheiro
pois vos custou a ganhar."
–"Dou-te o meu cavalo branco
que nunca houve outro igual."
– "Guardai o vosso cavalo,
que vos custou a ensinar."

– "Que queres tu meu gajeiro
que alvíssaras te hei-de eu dar?"
–"Eu quero a Nau Catrineta,
para nela navegar."

– "A Nau Catrineta amigo,
é d' el-rei de Portugal
pede-a tu a el-rei, gajeiro,
que ta não pode negar."


Sem comentários: