O escritor português
Branquinho da Fonseca escreveu o seguinte poema. Para o compreenderem melhor é preciso conhecer a historia dessa nau Catrineta que aparece no primeiro verso. Em baixo há o texto de um romance popular que fala dela. Depois de o ler, vamos clicar no
link e ouvimos uma canção:
"A nau Catrineta"
É assim que festejamos mais um Dia Mundial da Poesia, hoje dia 21 de março.
ARQUIPÉLAGO DAS SEREIAS
Ó nau Catrineta
Em que andei no mar
Por caminhos de ir,
Nunca de voltar!
Veio a tempestade
Perder-se do mundo,
Fez-se o céu infindo,
Fez-se o mar sem fundo!
Ai como era grande
O mundo e a vida
Se a nau, tendo estrela,
Vogava perdida!
E que lindas eram
Lá em Portugal
Aquelas meninas
No seu laranjal!
E o cavalo branco
Também lá o via
Que tão belo e alado
Nenhum outro havia!
Mundo que não era,
Terras nunca vistas!
Tive eu de perder-me
Pra que tu existas.
Ó nau Catrineta
Perdida no mar,
Não te percas ainda,
Vem-me cá buscar!
Branquinho da Fonseca
Texto do romance A nau Catrineta:
A NAU CATRINETA
Lá vem a Nau Catrineta
que tem muito que contar!
ouvide agora, senhores,
uma história de pasmar.
Passava mais de ano e dia
que iam na volta do mar
já não tinham que comer,
já não tinham que manjar.
Deitaram sola de molho
para o outro dia jantar;
mas a sola era tão rija,
que a não puderam tragar.
Deitam sortes à ventura
qual se havia de matar;
logo foi cair a sorte
no capitão-general.
– "Sobe, sobe, marujinho,
àquele mastro real,
vê se vês terras de Espanha,
as praias de Portugal!"
–"não vejo terras de Espanha,
nem praias de Portugal;
vejo sete espadas nuas
que estão para te matar."
–"acima, acima, gajeiro,
acima ao tope real!
olha se enxergas Espanha,
areias de Portugal!"
–"Alvíssaras Capitão,
meu capitão-general!
já vejo terras de Espanha,
areias de Portugal.
Mas enxergo três meninas
debaixo de um laranjal:
uma sentada a coser,
outra na roca a fiar,
a mais formosa de todas
está no meio a chorar."
–"Todas três são minhas filhas.
Oh! quem mas dera abraçar
a mais formosa de todas
contigo a hei-de casar."
–"A vossa filha não quero,
que vos custou a criar."
– "Dar-te-ei tanto dinheiro
que o não possas contar."
– "Não quero o vosso dinheiro
pois vos custou a ganhar."
–"Dou-te o meu cavalo branco
que nunca houve outro igual."
– "Guardai o vosso cavalo,
que vos custou a ensinar."
– "Que queres tu meu gajeiro
que alvíssaras te hei-de eu dar?"
–"Eu quero a Nau Catrineta,
para nela navegar."
– "A Nau Catrineta amigo,
é d' el-rei de Portugal
pede-a tu a el-rei, gajeiro,
que ta não pode negar."