Procurando um papel numa pasta, dei com este artigo de Rita Siza sobre espantalhos. Cá está para vocês:
Nascem e morrem em função do ciclo natural das colheitas . Enquanto vivem, resistentes às últimas chuvas e valentes sob o calor sem sombra, protegem as colheitas das invasões da passarada e fazem as delícias das tardes das crianças, que a tudo se esforçaram para torná-los “de verdade”. E, assim, ficaram.
São feitos de madeira e palha, mas a imaginação das crianças — as centenas que já participaram na Oficina de Espantalhos promovida pela Fundação Serralves, no Porto — tem-nos tranformado em verdadeiras personagens de histórias que a sua imaginação inventa. As roupas e os acessórios são da inteira responsabilidade dos mais miúdos. Eles agarram em tudo: camisolas, pijamas, calças, vestidos compridos... e chapéus, bonés, cartolas, fitas , colares, belas tranças, penas de índio... Há aqueles que são adeptos de causas especiais: os que incentivam à reciclagem, os que pregam pelo exercício físico, os que lembram a proteção que deve ser dada à floresta e a toda a natureza.
Nascem das mãos das crianças, e são por elas baptizados. Nascem, ao princípio do dia, de ripas cobertas de palha. Quando o sol se vai, já têm o seu nome. Até ao fim do Verão ali ficam, de braços abertos e sorrisos pintados: a Olguinha, o Funileiro, o Chico, o Cativa Corações, a Miss Limpa... Partem com a vinda do Outono, mas despedem-se em grande estilo. Na altura da desfolhada, os seus préstimos não são mais precisos. São, então, transformados numa grande fogueira, onde se vão consumindo para depois irem alimentar as terras que protegeram ao longo do Verão. Mas porque não desaparecem da memória dos meninos e meninas, nem das suas histórias, prestamos-lhes hoje a nossa homenagem.
Rita Siza
Sem comentários:
Enviar um comentário