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quarta-feira, 13 de março de 2013

Endechas a Bárbara escrava (Camões e Zeca Afonso)

O poeta Luís de Camões (1524 ou 25-1580)


Hoje temos poesia e música. Um poema de Luís de Camões, musicado pelo cantor português José Afonso, conhecido em Portugal também como Zeca Afonso.

Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E pois nela vivo,
É força que viva.

Luís de Camões





5 comentários:

jose francisco disse...

quem foi Luís de Camões?

Pedro L. Cuadrado disse...

O poeta Luís de Camões é como o nosso Cervantes, embora não escrevesse romances como ele. É considerado, pela sua importância, como o primeiro escritor da literatura portuguesa. A sua obra-prima é Os Lusíadas.

Anónimo disse...

Pretidão, é a cualidade do que é preto, mas, quál é a palavra espanhola? ¿"negrura"?
É uma poesia muito linda!

Andrea Martín Bernardo.

Pedro L. Cuadrado disse...

Olá, Andrea.

Acho que "negrura" não ficaria bem aqui, se calhar "oscuridad" é melhor, e tem outro som:

"Oscuridad de amor" (porque ela é preta, tem a pele negra, escura)

Bom fim de semana

Anónimo disse...

Obrigada, Pedro. Eu no tinha entendido que ela era preta, mas tem sentido.
Andrea Martín Bernardo