Vamos ler um conto tradicional russo sobre a amizade e a partilha, adaptado por Dulce Rodrigues.
Nota. A palavra carijó é um brasileirismo de origem tupi que significa o mesmo que pedrês; quer dizer, "salpicado de manchas pretas e brancas; (...) ; diz-se de uma raça de galinhas" (Dicionário Priberam).
HISTÓRIA DA GALINHA CARIJÓ
Era uma vez uma Galinha carijó, pequena mas muito esperta, que vivia numa quinta em companhia de um Pato barulhento, um Porco glutão e um Coelho que adorava escavar tocas.
Um dia, ao esgaravatar a terra à procura de minhocas, um dos seus pratos favoritos, a nossa simpática Galinha carijó encontrou vários bagos de trigo. Ela foi logo ter com os seus amigos e perguntou-lhes:
- "Quem quer ajudar-me a semear estas sementes?"
- "Eu não!" grasnou o Pato barulhento.
- "Eu não!" chiou o Coelho escavador.
- "Eu não!" grunhiu o Porco glutão.
- "Então vou pedir ajuda aos nossos vizinhos!"
E a nossa pequena mas esperta Galinha carijó foi ter com a vizinha Vaca leiteira, o Burro teimoso e a Ovelha lanuda, e fez a mesma pergunta:
- "Quem quer ajudar-me a semear estes grãos?" perguntou-lhes a pequena Galinha carijó.
- "Eu não!" zurrou o Burro teimoso.
- "Eu não!" mugiu a Vaca leiteira, que continuou a pastar tranquilamente.
- "Eu não!" baliu a Ovelha lanuda.
- "Então eu vou fazer a sementeira sozinha!"
E a nossa pequena mas esperta Galinha carijó semeou os bagos de trigo sozinha, sem qualquer ajuda dos outros.
Algum tempo depois, nos campos onde a pequena Galinha carijó tinha semeado os bagos de trigo; erguiam-se agora belas espigas douradas. Ela foi então ter com os outros animais da quinta e perguntou-lhes:
- "Quem quer ajudar-me a fazer a colheita?"
- "Eu não!" grasnou o Pato barulhento.
- "Eu não!" mugiu a Vaca leiteira.
- "Eu não!" chiou o Coelho escavador.
- "Eu não!" grunhiu o Porco glutão.
- "Eu não!" zurrou o Burro teimoso.
- "Eu não!" baliu a Ovelha lanuda.
- "Então vou fazê-la sozinha!" E assim fez.
Assim que acabou de fazer a colheita, a nossa pequena mas esperta Galinha carijó dirigiu-se de novo aos seus amigos e vizinhos da quinta e perguntou-lhes:
- "Quem quer ajudar-me a levar estas espigas ao moinho para serem moídas?"
- "Eu não!" mugiu a Vaca leiteira.
- "Eu não!" chiou o Coelho escavador.
- "Eu não!" grasnou o Pato barulhento.
- "Eu não!" zurrou o Burro teimoso.
- "Eu não!" baliu a Ovelha lanuda.
- "Eu não!" grunhiu o Porco glutão.
- "Então vou levá-las sozinha!" disse a pequena Galinha carijó. E se bem o disse, melhor o fez, pois pôs-se a caminho para o moinho do seu amigo Moleiro.
O senhor Moleiro tinha mesmo acabado o trabalho nesse dia, mas como era amigo da pequena Galinha carijó teve muito gosto em fazer algumas horas extraordinárias e moer-lhe o trigo. Ela agradeceu-lhe imenso e depois pegou no pesado saco e voltou para a quinta.
Na manhã seguinte, a nossa pequena mas esperta Galinha carijó foi novamente ter com os outros animais e perguntou-lhes:
- "Quem quer ajudar-me a fazer um bolo?"
- "Eu não!" grasnou o Pato barulhento.
- "Eu não!" mugiu a Vaca leiteira.
- "Eu não!" chiou o Coelho escavador.
- "Eu não!" grunhiu o Porco glutão.
- "Eu não!" zurrou o Burro teimoso.
- "Eu não!" baliu a Ovelha lanuda.
- "Então vou fazer o bolo sozinha!"
Ela dirigiu-se logo para a cozinha, enfiou o seu belo verde, arregaçou as mangas e pôs-se ao trabalho. Pouco tempo depois, havia um delicioso cheiro no ar e todos os outros vieram ver de que se tratava. Então a nossa pequena mas esperta Galinha carijó perguntou:
- "Quem quer ajudar-me a comer o bolo?"
- "Quero eu!" mugiu a Vaca leiteira.
- "Quero eu!" chiou o Coelho escavador.
- "Quero eu!" grunhiu o Porco glutão.
- "Quero eu!" zurrou o Burro teimoso.
- "Quero eu!" baliu a Ovelha lanuda.
- "Quero eu!" grasnou o Pato barulhento.
- "Não, eu posso comê-lo sozinha!" respondeu a pequena Galinha carijó.
Vermelhos de vergonha, todos os baixaram os olhos. Então a nossa pequena Galinha carijó disse-lhes: "Vocês mereciam que eu também fosse egoísta e comesse-o sozinha. Mas sou vossa amiga e vou dividi-lo convosco. Que isto vos sirva de lição para o futuro." E ao mesmo tempo que assim falava, a pequena Galinha carijó cortou o bolo e deu uma fatia ao Pato barulhento, outra ao Coelho escavador, outra ao Porco glutão, outra à Vaca leiteira, outra ao Burro teimoso e ainda outra à Ovelha lanuda.
E todos viveram felizes desde então.