Bairro de Alfama e Rio Tejo em Lisboa

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A cantiga das mentiras

Imagem vista em Le mariage parfumé

De certeza conhecem alguma versão espanhola desta cantiga das mentiras (eu, por exemplo, lembro-me de uma que diz  "Ahora que vamos de campo (bis) / vamos a contar mentiras, tralará... / Por el mar corren las liebres, / por el monte las sardinas, tralará...").

CANTIGA DAS MENTIRAS

Agora tenho vagar
vou contar umas mentiras:
já pelo mar andei às lebres,
e pelos campos às enguias.

Eu sou um triste ninguém
sempre a saltar pelos caminhos,
nas garrafas levo pão,
nos alforges levo vinho.

Botei com os bois às costas,
pus o arado a pastar,
sentei-me para correr,
deitei-me para os agarrar.

Fui ao figueiral às pêras,
todo me enchi de pinhões.
Veio o dono das castanhas:
— Ó ladrão, larga os feijões.

Eu vi dois ratos lavrando
a puxar pelo arado,
um grilo muito engraçado
ia atrás deles piando.

Com um cão um corridinho
vi uma cabra dançando.
Vi um lobo beber vinho,
uma ovelha namorando.

Vi um coelho fadista
a tocar numa guitarra.
Ouvi uma grande artista
que se chamava cigarra.

Vi um morcego com pernas,
vi uma levre fardada,
vi as rolas no cinema,
vi o tordo na tourada.

Com uma grande barriga
vi o leão bater sola.
Nas costas de uma formiga
já vi um jogo de bola.

Tenho catarro nas unhas,
dor de estômago nas orelhas,
já me doem os joelhos
de coçar as sobrancelhas.