Bairro de Alfama e Rio Tejo em Lisboa

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

João Pequenito


É um bocado comprido este conto? Alguém vai tentar lê-lo todo? Nas férias do Natal há muito tempo para muitas coisas...


Havia noutros tempos um homem que tinha três filhos e como fossem muito pobres disse-lhes um dia: “Meus filhos, é tempo de ir correr mundo em busca de fortuna, porque eu nada tenho que lhes deixar quando morrer”. Então os filhos despediram-se do pai e partiram para muito longe, indo ter à corte de um rei turco muito mau. Logo que ali chegaram pediram agasalho por aquela noite; o rei mandou-os entrar no palácio e como ele tinha três filhas mandou que deitassem os três rapazes nas camas das filhas e que lhes pusessem na cabeça umas carapuças de prata, que eram para quando eles estivessem a dormir lhes ir cortar as cabeças.

Lá pela noite adiante o rapaz mais novo que se chamava João Pequenito (apelido que lhe puseram por ele ser muito baixinho) levantou-se e tirou a carapuça da cabeça e das cabeças dos irmãos; pô-las nas cabeças das filhas do rei e fugiu do palacio e mais os irmãos, escapando assim à morte.

O rei turco, de noite, foi para matar os rapazes e matou as filhas, julgando serem eles quem matava.

Quando os rapazes ja iam muito longe, disse o João Pequenito: “Agora é preciso separarmo-nos e cada qual busque a sua vida”. O João Pequenito foi ao palácio de certo rei e pediu para que o tomassem para criado; o rei nomeou-o seu jardineiro e ele de tal maneira se soube haver que o rei estimava-o mais que todos os outros criados. Entre estes começou a reinar muita inveja a pontos de irem dizer ao rei que o João Pequenito tinha dito que era capaz de ir furtar uma bolsa de moedas que o rei turco tinha debaixo da cabeceira. Chamou o rei o João Pequenito e disse-lhe o que os criados tinham dito e ele respondeu que sim, que iria, e disse mais: “Mande-me Vossa Majestade dar um navio para eu ir à corte do rei turco e verá de quanto eu sou capaz”.

Foi o João Pequenito; subiu pela parede do palácio do rei turco, entrou pela janela e quando o rei dormia tirou-lhe a bolsa debaixo do travesseiro e fugiu.

O papagaio do rei turco começou a gritar: “Ó rei, olha que o João Pequenito leva a tua bolsa de moedas”. O rei foi ver à janela, mas ele já ia longe; o rei ainda lhe perguntou:

–Tornarás cá, Pequenito?
–Tornarei, tornarei.

E foi todo contente levar a bolsa ao rei seu amo.

Passados dias foram dizer ao rei que o João Pequenito dissera que era capaz de ir furtar a coberta de campainhas que o rei turco tinha na cama. De novo é o Pequenito interrogado e lá volta à corte do turco, furta a coberta e foge. O papagaio do rei turco gritava: “Ó rei, ó rei, olha o Pequenito que leva a tua coberta de campainhas”. O turco foi à janela e perguntou:

–Tornarás cá, Pequenito?
–Tornarei, tornarei.

Chegou o Pequenito ao palácio de seu amo com a coberta e o rei de cada vez estava mais agradado dele por ver a sua valentia.

De novo os criados foram dizer ao rei que o Pequenito dissera que era capaz de ir furtar o papagaio do rei turco. O Pequenito, logo que isto soube, aprontou-se e foi. Furtou o papa-gaio e este gritava pelo caminho: –“Aqui d’el-Rei, que furtado me levam”.

Chegado o Pequenito ao palácio novos tra-balhos o esperavam. Disseram ao rei que o pequenito dissera que era capaz de furtar o rei turco e de o trazer para o palácio. Então o rei disse-lhe: “Se tu fores capaz de me trazer aqui o rei turco, casarás com a princesa minha filha”. O Pequenito respondeu: “Dê-me Vossa Majestade um exército de homens e alguns navios e verá de quanto é capaz o Pequenito”.

Aprontou-se tudo e o Pequenito arranjou uma grande dorna e foi ao palácio do turco e quando ele estava a dormir envolveu-o na roupa da cama; desceu com ele pela janela, meteu-o na dorna e à frente do exército lá o levou para a corte do rei seu amo. Este quis logo que o Pequenito casasse com a sua filha; fizeram-se grandes festas e o Pequenito mandou ir para o palácio o seu pai e irmãos, dando-lhes altos cargos na corte. E assim acaba esta história.



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